Na última sexta-feira (15/8), Hytalo e o companheiro, Israel Nata Vicente, foram presos em São Paulo (SP), acusados de tráfico de pessoas e exploração sexual de menores
De acordo com investigação exibida pelo Fantástico, na noite de domingo (17/8), famílias de adolescentes aceitavam pagamentos mensais para autorizar que os filhos vivessem com o influenciador digital Hytalo Santos, em João Pessoa (PB).
O valor, descrito como uma espécie de “mesada”, variavam de R$ 2 mil a R$ 3 mil, e faz parte do esquema que hoje é apurado pelo Ministério Público do Trabalho da Paraíba e pela Polícia Civil. Na última sexta-feira (15/8), Hytalo e o companheiro, Israel Nata Vicente, foram presos em São Paulo (SP), acusados de tráfico de pessoas e exploração sexual de menores.
Mesmo diante dos repasses financeiros, conselheiros tutelares afirmaram ao programa que não havia registros oficiais de denúncias feitas pelos pais, muitos deles residentes de Cajazeiras, cidade onde Hytalo nasceu.
Relatos de ex-funcionários
Segundo a reportagem, pessoas que trabalharam para o influenciador prestaram depoimentos sob anonimato. Elas narraram que os jovens que moravam na residência viviam sob controle rigoroso: era Hytalo quem decidia horários de alimentação, descanso e até de uso do celular.
Um dos depoentes relatou que, para aparentar normalidade, ele registrava imagens das crianças indo à escola, mas que a rotina era diferente fora das câmeras. Caso houvesse compromissos de gravação, “iriam lá simplesmente para pegar a criança”.
As denúncias ainda apontam que festas eram frequentes na casa, com acesso liberado a bebidas alcoólicas para os adolescentes. Uma ex-funcionária declarou também que o ambiente tinha condições precárias de higiene e que os menores, muitas vezes, ficavam sem refeição adequada até que Hytalo autorizasse.
Dinâmica semelhante a um reality show
O Ministério Público descreveu o ambiente como se fosse um programa de confinamento. Os adolescentes precisavam gravar vídeos diários, frequentemente com coreografias de teor sensual, que eram publicados nas redes sociais. A estratégia gerava retorno financeiro por meio de publicidade, rifas e sorteios.
Durante as apurações, veio à tona que uma das jovens engravidou e perdeu o bebê enquanto morava no local. Também foram constatadas faltas escolares em excesso, chegando a 50 dias de ausência para participar de viagens ligadas às gravações.
Denúncias e prisões
Hytalo começou a ganhar notoriedade dando aulas de dança em praças, mas rapidamente transformou sua presença online em fonte de renda, exibindo carros de luxo e imóveis de alto padrão. Ex-funcionários disseram ao Fantástico que ele recebia grandes quantias em espécie e joias. A defesa, no entanto, rejeita as acusações.
As denúncias ganharam força após o YouTuber Felca tornar o caso público. A repercussão levou TikTok, YouTube e Instagram a suspenderem a monetização dos perfis de Hytalo. As plataformas não detalharam o motivo pelo qual os perfis permaneceram ativos até a repercussão nacional.
O casal foi capturado em São Paulo na última sexta-feira (15/8). No momento da prisão, a polícia apreendeu quatro celulares. Segundo o delegado Fernando Davi, eles tinham ciência do mandado de prisão e havia indícios de que planejavam fugir.
A defesa sustenta que os dois estavam apenas a passeio e considera a detenção abusiva. Já para o Ministério Público da Paraíba e o Ministério Público do Trabalho, as provas de exploração são robustas. Os procuradores afirmam que adolescentes foram recrutados em diferentes cidades, levados para João Pessoa e submetidos a condições de trabalho forçado. Após a prisão, os jovens foram devolvidos às famílias.